O filme Terra e Liberdade goza de grande reputação em círculos militantes. O propósito deste texto não é questionar esta reputação do ponto de vista de um crítico de cinema: o objetivo neste caso serão as questões políticas e teóricas.
Tampouco nos limitaremos às questões estéticas.
Alguns indivíduos são favoráveis à ambiguidade na arte, permanecendo distantes de romances com uma mensagem, e acreditando que é com nobres sentimentos que a má literatura é escrita (e provavelmente a má teoria também).
Outros depreciam a “arte pela arte”, e preferem a ficção que mostre questões sociais sem ter grandes pretensões.
Não entraremos nesses debates. Este trabalho é exclusivamente sobre Terra e Liberdade, não sobre a filmografia de Ken Loach ou sobre suas posições políticas.
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Primeiro, um breve resumo para aqueles que não assistiram ao filme (lançado em 1995).
Quase toda a narrativa é um flashback. Uma jovem mulher descobre o passado do seu avô, David, falecido recentemente. Na década de 1930, David, um jovem trabalhador, e membro do Partido Comunista da Inglaterra, vai à Espanha lutar contra o general Franco. Ainda que sua intenção original fosse integrar as Brigadas Internacionais, ele termina sendo integrado a uma pobremente equipada milícia do POUM [Partido Operário de Unificação Marxista] no front de Aragão, junto a homens e mulheres, voluntários de toda a Europa. Uma delas é Blanca, uma ardorosa defensora do POUM. David se sente atraído por ela.
Quando é ferido, David vai a Barcelona, onde se une às Brigadas Internacionais. Em maio de 1937, quando o Estado republicano, apoiado pelos stalinistas, finalmente recupera o controle da cidade e se livra dos elementos radicais, David, primeiro, fica do lado das forças governamentais, até que, posteriormente, rompe com o partido e volta a ver a sua antiga companheira.
Entretanto, a milícia do POUM está em grave situação. As Brigadas Internacionais, primeiramente, negam-lhe qualquer apoio militar, para logo forçá-la a debandar (o POUM havia sido acusado de agente do fascismo). No meio desse conflito, Blanca é morta.
Retornando ao presente na Inglaterra, no funeral de David, vemos seus velhos camaradas de armas na Espanha. O filme termina com uma saudação com punhos erguidos.
Como mostrado neste resumo, o filme desenvolve eventos de grande importância histórica, poucas vezes vistos nas telas de cinema. Casos similares, como o filme de Sam Wood, Por Quem os Sinos Dobram, produzido em 1943, quando a Rússia e os Estados Unidos lutavam juntos contra Hitler, apresentou o campo antifascista como uma frente unida, em sintonia com o romance de [Ernest] Hemingway que inspirou o filme. A temática de Terra e Liberdade é uma que raramente se aborda no cinema.
O problema é que, em vez de problematizar e instigar o debate crítico sobre esses eventos, a narrativa é feita de uma maneira que força conclusões como se fossem autoevidentes para o espectador, e, em última instância, esvazia o debate político.
Isto não quer dizer que não haja debate político no filme. Pelo contrário. Uma das cenas mais longas (12 minutos) do filme, e uma das mais importantes, segundo o próprio Ken Loach, descreve uma discussão sobre a coletivização em uma vila libertada pela milícia do POUM. A coletivização deve ser implementada imediatamente ou não? Um americano argumenta que a guerra contra Franco deve ser prioritária, e recomenda aos moradores que não tomem medidas radicais que impeçam que as democracias capitalistas apoiem a República em seu esforço antifascista. Em contraste, um voluntário alemão propõe que a guerra e a revolução devem estar de mãos dadas. A reunião se declara, então, a favor da coletivização. Esta cena está claramente no núcleo da questão.
Assistir a um filme, no entanto, é diferente de ler e escolher posições políticas no papel. O observador encara uma tela: os personagens atuam em uma sucessão de cenas, e a forma pela qual cada cena ganha relevância, depende do que é mostrado antes e depois ao espectador. Neste caso, a discussão sobre “guerra versus revolução” ou “guerra mais revolução” só tem sentido em relação à totalidade da trama, especialmente a cena em que o conflito entre a milícia e o exército regular explode em violência e sangue. Certamente, a oposição entre esses dois grupos é central no filme: daí, a impressão e a lembrança que nos ficam provêm diretamente da maneira como são caracterizados.
Por um lado, a milícia do POUM é mostrada como cheia de vida e acolhedora. Uma união fraterna, onde cada miliciano tem e mantém sua personalidade. As milicianas também, já que não é uma milícia exclusivamente masculina. Blanca não é apenas bonita, mas cumpre uma função importante, política e emocionalmente. (Ao contrário, em Por quem os sinos dobram, a personagem principal feminina, Maria, era uma vítima, e não uma protagonista ativa). Por outro lado, o exército republicano, agora “profissional”, é caracterizado como uma massa de brutais e indiferenciados uniformizados. Entre seus oficiais, observamos o americano que assistimos argumentar contra a coletivização.
Como todo o drama é visto (e narrado) através dos olhos de um bom rapaz, somos levados a nos identificar com um grupo (o grupo ao qual pertence o rapaz) e contra o outro: em parte, devido ao que aqueles grupos representam, e muito mais devido ao que eles aparentam.
Imaginemos um filme russo antitrotskista produzido no final dos anos 1930 (os stalinistas denunciaram o POUM como trotskista, o que ele não era: Trotsky foi abertamente crítico até o envolvimento do POUM na Frente Popular). Nos mostrariam, de um lado, um pelotão das Brigadas Internacionais, onde socialistas, comunistas e democratas lutariam como irmãos. Nos familiarizaríamos com três ou quatro deles, de diferentes países, com diversos passados e personalidades, com pequenas divergências que seriam resolvidas até o final. Nós os veríamos lutando, cozinhando e se divertindo. Pessoas decentes e eloquentes.
Do outro lado, nos apresentariam um bando selvagem e armado, incapaz de ter um diálogo político coerente. Se o roteirista se preocupa com a caracterização, ele mostraria cada um deles se embriagando, outro observando o relógio que roubou de um burguês e um terceiro fugindo com o dinheiro do grupo.
De acordo com a mesma lógica de Terra e Liberdade, só que de forma invertida, a história seria contada através das memórias de um jovem e inocente trabalhador. No começo, ele teria inclinações anarquistas, mas enquanto a trama fosse se desenvolvendo, ele se converteria gradualmente em amigo do camarada Stálin. Em síntese, o primeiro grupo seria identificado com o que reconhecemos como virtudes da humanidade, e o segundo com os sinais da malícia. Com quem o espectador seria levado a simpatizar? Isto seria Terra e Liberdade invertido: propaganda stalinista ao invés de antistalinista.
O mal da propaganda não é apenas porque ela mente. Os propagandistas também nos mantêm passivos: supõem que nos dão alimento para nosso pensamento, mas só nos entregam lixo processado.
A publicidade e a propaganda têm muito em comum. Ainda que a propaganda frequentemente pareça pobre e grosseira, comparada às habilidades imaginativas dos spots publicitários, os propagandistas usam técnicas similares. Um comercial de TV liga o produto em promoção à imagem de algo que se sabe de antemão que o potencial comprador gosta: um carro será mostrado junto a uma família feliz, comida para animais de estimação com um alegre gato jogando, uma loção corporal com uma modelo fashion, etc. Ela funciona sob o princípio da manipulação emocional. De igual forma, a propaganda nos dá um sinal positivo sobre o que queremos acreditar, e um negativo sobre o que deveríamos recusar. Em essência, é isto que a oposição milícia/exército resume em Terra e Liberdade: uma confrontação entre os bons e os maus.
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Nos anos 1970, alguns críticos de cinema atacaram o que rotularam de “ficção de esquerda”. Este gênero consistia em tomar emprestado os códigos do popular cinema mainstream e aplicá-los a um conteúdo antiburguês ou antiestablishment. Como nos filmes de detetive, o investigador iria desvendando a trama de um crime, mas desta vez o transgressor seria um criminoso social ou político. O personagem principal, um bom homem, apesar de suas contradições, seria um jornalista investigativo, um trabalhador, um policial honesto, um “homem da rua”, fazendo o seu melhor contra os militares fascistas, um estuprador, policiais racistas, um político corrupto ou um patrão explorador e abusivo. Como numa moderna moralidade (gênero teatral), os personagens personificam atitudes e grupos, e o protagonista principal representa a humanidade (isto é, a audiência) e atua em seu lugar. À medida que a trama se desenvolve, o herói e o espectador desmascaram a indecência e a infâmia da sociedade atual. Algumas vezes, o filme consegue isto sem precisar de um investigador ou de um herói: a moral implícita da história é tão clara que não há necessidade de corrigir o mal. Aqui há dois bons exemplos:
Z (1969): em um país não especificado (embora todos saibamos que se trata da Grécia), um obstinado juiz lança luz sobre o assassinato de um primeiro ministro da esquerda por oficiais do exército. A Confissão (1970): em 1952, um ministro do governo checo é preso sob falsas acusações e obrigado a confessar. Ambos foram dirigidos por Costa-Gavras e inspirados em fatos reais (em A Confissão, o julgamento de Slansky é mais tarde narrado por Artur London). Ambos foram grandes êxitos comerciais e de crítica. Um atacava os fascistas, o outro, os stalinistas.
Porém, o que foi esclarecido nestes bem intencionados filmes acerca da ditadura dos coronéis na Grécia entre 1967-1974, ou sobre os regimes burocráticos na Europa Oriental? Pouco ou nada, já que a explicação histórica é reduzida a uma luta entre heróis e vilões.
O leitor objetará que Ken Loach está muito distante do elegante e mainstream Costa-Gavras: afinal, o seu cinema não é orientado por perspectiva de classe? De acordo, mas há muito mais do que uma análise de classe. As ideias subjacentes em um filme, e muito mais a visão política que procura desenvolver, só existe em relação à forma como o escritor ou o diretor nos apresenta. Sempre que se trata de arte interessada, a forma é tão importante quanto o conteúdo. Para entender integralmente o significado histórico de Dickens ou Zola, não se pode contentar em entender apenas as suas “ideologias” explícitas ou implícitas: também devemos nos inteirar de como esses autores populares buscaram construir o apoio e a aprovação do leitor. Como se relacionam com o leitor? Quanto o permitem se situar na leitura? De fato, autores como Zola e Dickens usam códigos e padrões que deixam muito pouco espaço para uma distância crítica e reflexiva. O que é verdade nos livros se aplica ainda mais aos filmes, visto que o cinema apela mais diretamente aos sentimentos e emoções do que outras formas de arte, posto que a sua capacidade de manipulação é maior.
Terra e Liberdade faz grande uso dessa capacidade. Para enviar a sua mensagem à audiência, Ken Loach envia os sinais adequados. Ele é cuidadoso ao não nos apresentar um protagonista que entende tudo desde o princípio. David vai à Espanha como um dedicado, porém ingênuo antifascista, com uma crença ingênua no PC e na União Soviética. Ele é como milhões de trabalhadores em todo o mundo costumam ser, ingênuos, tal como é o espectador médio do filme. Só aos poucos e após dolorosas experiências, incluindo a perda da mulher que ama, ele perceberá a verdade que nós os espectadores reconhecemos graças a ele. A Espanha terá sido uma terra de iniciação tanto para David quanto para nós ao mesmo tempo.
O problema é que nossa consciência não é gerada ao analisar e criticar diferentes opções e posições. Tudo nos leva a identificar com David, com suas sucessivas atitudes, dúvidas e certezas finais, se nos deixa com apenas uma forma de pensar. Além do mais, e como na maioria dos outros filmes, o processo de empatia é ainda mais efetivo quando podemos nos identificar com um indivíduo que está longe de ser o protótipo do herói de ação, que parece lutar e atuar como você e eu. O anti-herói é a forma mais comum de herói dos nossos dias, prefira Loach ou George Lucas.
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Alguns amigos me disseram: “Terra e Liberdade pode ter suas debilidades, mas tem o considerável mérito de mostrar os conflitos que existiram dentro do campo republicano, especialmente as revoltas de maio de 1937, num filme destinado a uma massiva audiência: portanto, ele ajuda a esclarecer historicamente e encoraja o observador a aprender mais por si mesmo”. Este argumento está errado por uma série de razões.
Primeiro, os eventos de maio de 1937 possuem um significado muito diferente em 1937 e 70 anos mais tarde. Orwell, cuja experiência na Espanha foi semelhante à de David, teve uma grande dificuldade para ver seu livro Homenagem à Catalunha publicado. Algumas das 1.500 cópias publicadas em 1938 não haviam sido vendidas quando uma segunda edição saiu em 1951. Quando Orwell morreu em 1950, havia somente uma tradução (em italiano). A edição americana apareceu somente em 1952, a francesa em 1955. Desde então, o livro tornou-se parte da bagagem cultural de grande parte das pessoas politicamente interessadas ou educadas do ocidente. Somente o seguidor de Ken Loach poderia ter conhecimento das lutas “mutuamente destrutivas” ou “fratricidas” entre stalinistas e anarquistas durante a guerra civil espanhola. É no mínimo duvidoso que o filme Terra e Liberdade esclareça algo ao espectador médio. A ele é mostrado um conflito entre protagonistas que permanecem estranhos. POUM, CNT, trotskistas, comunistas… que significa tudo isso? E que diferença há entre comunistas e stalinistas? Tudo o que o espectador lembrará é que os derrotados (POUM e anarquistas) estavam com a razão, mas isso não foi suficiente para fazer algo com ela, e que os stalinistas ganharam… até Franco vencer a guerra. Felizmente, a história já mudou de página: o totalitarismo terminou em suas variantes fascistas e stalinistas. Franco está morto e também a URSS está (uma vez mais, em relação à diferença entre comunismo e stalinismo, a confusão continua: o stalinismo é mostrado simplesmente como uma mescla de autoritarismo, militarismo, decepção e mentiras). As cenas das lutas de rua em Barcelona, em maio de 1937, não nos dizem muita coisa.
Em segundo lugar, o que podemos entender ao nos identificarmos com uma forma de bem ante uma forma de mal? Se levarmos a lição a sério, devemos nos preparar para lutar (inclusive, numa guerra) contra um inimigo caracterizado como um vilão absoluto, contra quem qualquer meio, mesmo aqueles que são considerados inaceitáveis, como a tortura e os assassinatos extrajudiciais, apareceriam como um mal menor. Quando lidamos com aqueles que explodem pessoas inocentes no metrô, tudo parece permitido. (“Um terrorista é alguém que tem uma bomba, mas não uma força aérea”, escreveu William Blum). Ken Loach certamente não apoia a “Guerra contra o terrorismo”, mas a lógica binária de Terra e Liberdade é compatível com qualquer versão de um mal menor.
Terceiro e mais importante, o filme evita as questões políticas importantes da guerra na Espanha:
Basicamente, para a Esquerda comunista (principalmente a esquerda “italiana”, mas também a esquerda “germano-holandesa”), a partir do momento em que os proletários aceitaram combater o fascismo sob a liderança do estado democrático, eles perderiam de duas formas distintas. Primeiro, perderiam as vitórias e reivindicações que haviam obtido da burguesia até aquele momento, e, posteriormente, perderiam a batalha militar antifascista. A posição da esquerda comunista foi e continua sendo a de uma pequena minoria.
Entretanto, se ninguém toma essa posição, se se acredita que Franco somente poderia ser destruído pela ação de uma força armada efetiva, apoiada por todas as tendências democráticas da população, incluindo a burguesia, então quem está correto? A pequena milícia do POUM, cuja única força era derivada de sua experiência proletária e sua atividade insurgente? Ou uma forte e estruturada máquina militar, popular e moderna ao mesmo tempo, que não tem medo de fazer uso da disciplina, nem de incorporar oficiais conservadores, desde que lutem pela República e contra o fascismo?
Terra e Liberdade não se posiciona a respeito desta questão. Na verdade, não se posiciona em praticamente nada, apenas nos faz sentir empatia pela gente comum frente aos poderosos. Nada mal… porém, não faz nada para expandir nossa consciência.
Este não é o momento para propor outra versão da história. Digamos apenas que em 1937, quando a contrarrevolução prevaleceu em todo o mundo, incluindo a Espanha, procurar uma forma revolucionária de lutar contra o fascismo era como tentar quadrar o círculo. A vitória do exército regular contra as milícias, e, finalmente, sua derrota contra Franco, eram inevitáveis. Como Orwell escreveu alguns anos depois:
“As milícias do governo espanhol durante os primeiros seis meses da guerra – o primeiro ano na Catalunha – eram um exército genuinamente democrático, porém eram também um tipo primitivo de exército, capaz apenas de ações defensivas (…). Mas se se quer eficácia militar no sentido comum, não há como escapar do soldado profissional, e enquanto o soldado profissional estiver no controle, ele se encarregará de impedir que o exército seja democratizado. E o que é verdade entre as forças armadas também é verdade para a nação como um todo; cada aumento da força da máquina militar significa mais poder para as forças da reação” (Democracia no exército britânico, setembro de 1939).
Um exército democrático não é aquilo que pretendemos. Além do mais, as milícias certamente não eram tão “primitivas” como Orwell sugere. Qualquer que seja o caso, o filme de Ken Loach não concorda nem discorda. Ele se esquiva do assunto. O problema de Terra e Liberdade é que ele nos deixa com a impressão de que apesar das más condições da época (isto é, com uma burguesia no poder do estado), as milícias como são caracterizadas no filme poderiam ter resistido contra Franco.
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Terra e Liberdade não é criticável por ser um filme com uma mensagem, mas porque pretende nos educar, enquanto nos entretém com verdades mastigadas. A narrativa não é tão diferente da típica produção de Hollywood com seus bons moços, seus vilões malucos, seu homem honesto que entra na vida adulta, perde a inocência e um pouco do rumo até voltar ao caminho correto. Todas essas características da ficção mainstream se encontram em Terra e Liberdade, sem esquecer da inteligente e bela moça que morre pelo herói: a morte trágica de Blanca é o passo final na ruptura de David com o stalinismo. O filme pensa por nós. Nos mostra um herói positivo que serve de exemplo para a nossa própria conduta. David aprende sua lição duramente em 1937: a narração de sua tomada gradual de consciência, a sua perda das ilusões em relação ao PC, nos instruirão 60 ou 80 anos depois. Tudo é mostrado através dos olhos de David: qualquer outra janela para a realidade está fechada para nós. David enfrenta uma sucessão de escolhas que são de fato impostas a ele, e somos obrigados a corroborar suas (forçadas) decisões, à medida que cada membro da audiência se identifica com ele. Na verdade, esse é exatamente o propósito de focalizar tudo em um herói positivo (um observador crítico deveria recusar o filme em sua totalidade, assim como um fanático stalinista, mas estes são espécies em extinção). Ao invés de assumir o controle de sua compreensão, o espectador se vê induzido a permanecer passivo.
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Ainda que que possa ser interessante fazer uma análise de outros filmes de Ken Loach (incluindo os seus documentários), este texto não é sobre ele em geral, mas tão somente uma pequena intromissão na prática da propaganda. (Por exemplo, se o método utilizado em Terra e Liberdade também pode ser visto em Os ventos da Liberdade (2006), não é assim em Looks and smiles (1979)).
A autonomia – tanto individual, como coletiva – não é certamente a chave para tudo, mas é uma condição necessária de uma luta consistente pela emancipação humana. Por isto, não pode haver nenhuma atividade de propaganda “útil”. O autopoder é incompatível com o controle das emoções, heróis positivos, os modelos a seguir e as conclusões induzidas. Nada é óbvio. A alienação não pode ser combatida com meios alienados.
2014
Gilles Dauvé