sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Filme Janela Indiscreta: a metalinguagem no cinema

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A câmera do diretor em um filme representa o olhar do espectador. Ela aponta para a nossa perspectiva dentro daquele universo e, como o “olho do espectador”, nos mostra qual história será contada, e quais personagens acompanharemos, diante de um universo ilimitado. Logo, a nossa visão é limitada, mas as histórias que acontecem ao nosso redor são incontáveis. O imaginário nunca poderá ter um fim.

Dentro dessa observação, podemos dizer que o clássico Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, é um filme sobre filme. Do início até o final do filme, acompanhamos uma única visão (subjetiva), a do personagem Jeffries (James Stewart). Ele, prestes a se casar, está de repouso em sua casa por não poder mais andar, devido a uma perna engessada. Assim, a sua situação é como uma “sala de cinema”; ele está preso em sua cadeira de rodas e a sua única visão de mundo é a sua janela do seu quarto, à qual ele observa os seus vizinhos diariamente com um binóculos (o espectador).

Entre discussões com a sua namorada Lisa (Grace Kelly) e sua diarista Stella (Thelma Ritter), Jeffries consegue convencê-los de que houve um assassinato no prédio em frente, e à medida que a história avança, pistas vão sendo dadas e o caso parece tomar forma. Hitchcock é hábil, maneja a sua câmera como um voyeur, nos direcionando para várias histórias que existem no prédio em frente, sem que estejam diretamente relacionadas ao assassinato, de modo que os binóculos de Jeffries direcionem o nosso olhar. Em cada apartamento existem várias histórias diferentes, personagens distintos e situações que nos levam a imaginar várias situações. Podemos nos perguntar: Por que a mulher passa a noite sozinha se fantasiando com um encontro? Quem seria o enamorado da bailarina? De fato, houve um assassinato?

As perguntas podem ou não serem respondidas, mas não é o que nos interessa aqui. O filme é sobre um filme e estamos dentro dele como um observador. Diante de um desfecho possível (ou não) de um suposto assassinato, o que nós precisamos são de pistas (imaginárias) que nos levem a acreditar nisso. Hitchcock conhece o cinema como poucos e o seu poder está sempre em evocar o imaginário do espectador, seus medos, emoções e suas angústias, como um “ilusionista” – sabemos que a imagem não é real.

Por fim, a câmera é a nossa visão para o mundo, pois é nele que construímos as histórias. Ao acompanharmos o filme, somos transportados para aquele universo, como observadores. Cada apartamento possui histórias diferentes e personagens diferentes para novos filmes. Cabe a nós darmos um sentido a isso: visualizar o mundo como uma câmera, contribuindo com a nossas histórias.
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Texto escrito em 2012.
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